sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Nemesis

Inspira,
deixa a dor sair
com o ar que expiras.

Por mais que (tu) espires,
não sentes,
não ri.

Podes beijar quantas bocas quiser,
comer com talheres ou colher,
ir de ônibus ou a pé,
mas isso não sai de ti.

Te vês cara-a-cara com teu inimigo;
aquele que entristece teus poemas
e atormenta teu sono:

o maldito sentimento de abandono.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Presa

Camaleão do amor
Que posso receber,
Misturo-me ao teu
Resistente poder
De enganar.

E ainda que eu minta
Sobre a suficiência
Do que recebo de volta
Insisto em ficar
Mesmo que parasita.

A tua troca de pele
Repele os meus instintos.

Até que, predador,
Me dê o bote
Sem salva vidas
E fuja para o seu habitat.

Desencontramo-nos
Em tantos transmutar
Esconder, camuflar,
De tanto subverter
a ordem de saber estar.

Dois animais
Cumprindo seu papel
Na cadeia alimentar.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Desfecho (Carnaval III de III)

Nem tenta
me ungir com água benta,
ou sugerir banho em ervas;
a vida (minha) que tanto prezas
já se afogou em pesadelo.

Toda noite imploro pra não vê-lo
em sonho;
(onde eu deveria estar seguro)
logo suponho:

este deve ser meu fim.

Mas que graça teria se a gente só morresse?
Não, temos que chorar desesperadamente
por horas,
por dias,
pelo janeiro inteiro,
até não restar nada,
só um corpo com a corda enrolada
no pescoço,
suspenso,
sem vida.

E é só o que me falta.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Suicídio (Carnaval II de III)

Tu não temes a morte, quer conhece-la.
Choras toda noite,
mas te obriga a se calar.
Ninguém acredita em ti.

Ninguém acredita que teu maior desejo
é deixar de existir.

"Ah, isso passa".
Ouves enquanto tu
cais em desgraça.
E já não queres ver teus amigos,
já não queres te ver.
Aos poucos, perde o gosto
por tudo que, antes, te dava prazer;
(nem a poesia te salva).

E depois de dias percebe:
a tristeza engoliu teu ser.

Inferno (Carnaval I de III)

Acorda, mas não desperta.
Tua inimiga, esperta, ataca na tua chaga:
a falta dele.
E os dias se tornam infinitos,
vazios;
em um mar de navios
te sentes canoa,
te sentes a pior pessoa,
e já não sentes nada além de dor.

Morres na segunda,
na terça e na quarta.
É assustador como tristeza
aos poucos
te mata.